
O livro investiga o papel da liderança “Kapi” no contexto das hierarquias clânicas do povo Sateré Mawé da Terra Indígena Andirá-Marau. Analisa a relação de parentesco e de afinidade do clã ut/sateré (lagarta) na formação de um líder Kapi.

Este artigo, escrito a quatro mãos por um pesquisador Sateré-Mawé e uma antropóloga não indígena, elenca práticas tradicionais de resguardo do povo Sateré-Mawé, considerando as noções de corpo, saúde e doença envolvidas. A noção de resguardo e isolamento como cuidado é contraposta ao isolamento e invisibilidade dos indígenas em relação às políticas públicas do Estado. Retomam-se alguns momentos históricos críticos em que o povo Mawé teve que se resguardar e como estas práticas tradicionais podem hoje ensinar estratégias de proteção contra o coronavírus, já que mais uma vez as ações do Estado brasileiro colocam em risco os povos indígenas diante dessa nova ameaça de genocídio. Alguns conflitos que emergiram durante a pandemia são mencionados, de modo a contextualizar como os Sateré-Mawé estão enfrentando a pandemia.
Artigo Publicado na eUSAL REVISTAS EDICIONES UNIVERSIDAD DE SALAMANCA
LAS MATERIALIDADES COMUNICANTES: LOS NO OBJETOS
HABLANTES DE LA FLORESTA AMAZÓNICA DIGITAL

Dissertação: A formação da liderança KAPI entre os Sateré-Mawé/AM
O trabalho almejou explorar processos construídos internamente pelos ameríndios do Andirá-Marau. São processos que, apesar de não existirem com uniformidade, permanecem coesos, fortes, abertos a mudanças e transformações. O problema investigado é originado na idealização (pela maioria da população) de um indígena fossilizado, que viveu no passado, com características permanentes dos povos nômades, sem organização, tecnologia e cultura. Um ideal reforçado por cronistas conquistadores (portugueses e espanhóis), descrito em seus diários de viagem. Esses viajantes destacavam a nudez e as moradias rudimentares, com olhares superiores, apontando projetos de civilidade, modernidade e desestruturação do sistema social dos povos autóctones do lugar. A herança ocidental, construída historicamente e impregnada na população miscigenada, continuou vigorando dentro de uma velha prática de discriminar povos originários, o que fomentou a disseminação de conceitos errôneos, preconceitos, perpetuando a discriminação e a divisão social. Nesse cenário, o que aproximou a sociedade indígena do passado ancestral e os descentes na atualidade foram adaptações que tiveram de fazer para manter vivas gerações do agora, mostrando flexibilidade às adversidades impostas, o que prova a força advinda de uma cultura dinâmica e suscetível a mudanças.